EM AUDIÇÃO
CHOPIN - NOCTURNE IN B FLAT MINOR OP.9 Nº1
quinta-feira, 15 de maio de 2008
quarta-feira, 14 de maio de 2008
DA SEDUÇÃO DOS ANJOS
Anjos seduzem-se: nunca ou a matar.
Puxa-o só para dentro de casa e mete-
-Lhe a língua na boca e os dedos sem frete
Por baixo da saia até se molhar
Vira-o contra a parede, ergue-lhe a saia
E fode-o. Se gemer, algo crispado
Segura-o bem, fá-lo vir-se em dobrado
P'ra que do choque no fim te não caia.
Exorta-o a que agite bem o cu
Manda-o tocar-te os guizos atrevido
Diz que ousar na queda lhe é permitido
Desde que entre o céu e a terra flutue –
Mas não o olhes na cara enquanto fodes
E as asas, rapaz, não lhas amarrotes.
Bertold Brecht
Tradução de Aires Graça
Foto: Dylan Ricci
terça-feira, 13 de maio de 2008
AMOR NO FEMININO
Amavam-se. E que longo amor tinham as duas,
Quando no leito, a sós, ambas se viam nuas,
Ao romper da manhã!...
Os corpos brancos de uma alvura de nevoeiro,
Apetitoso como frutos em Janeiro
E os seios num contorno iriente de romã…
Enlaçavam depois os corpos. Boca a boca
Trocavam docemente os mais vermelhos beijos,
Numa febre de amor, numa ternura louca,
Entre gritos do sangue e ardência dos desejos.
Noites brancas! Na sede ardentíssima do gozo,
Que frémitos! Da carne o insaciado ardor
Rói o sexo que explui, a crepitar, furioso
Injectado de amor….
Xavier de Carvalho
segunda-feira, 12 de maio de 2008
COSMOCÓPULA
Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras.
O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso de água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro
Natália Correia
Imagem: Jan Saudek
domingo, 11 de maio de 2008
NUA
quinta-feira, 1 de maio de 2008
PUS O MAR
terça-feira, 8 de abril de 2008
QUANTO DE TI AMOR
Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço
em que de penetrar-te me senti perdido
no ter-te para sempre -
Quanto de ter-te me possui em tudo
o que eu deseje ou veja não pensando em ti
no abraço a que me entrego -
Quanto de entrega é como um rosto aberto,
sem olhos e sem boca, só expressão dorida
de quem é como a morte -
Quanto de morte recebi de ti,
na pura perda de possuir-te em vão
de amor que nos traiu -
Quanta traição existe em possuir-se a gente
sem conhecer que o corpo não conhece
mais que o sentir-se noutro -
Quanto sentir-te e me sentires não foi
senão o encontro eterno que nenhuma imagem
jamais separará -
Quanto de separados viveremos noutros
esse momento que nos mata para
quem não nos seja e só -
Quanto de solidão é este estar-se em tudo
como na auséncia indestrutível que
nos faz ser um no outro -
Quanto de ser-se ou se não ser o outro
é para sempre a única certeza
que nos confina em vida -
Quanto de vida consumimos pura
no horror e na miséria de, possuindo, sermos
a terra que outros pisam -
Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,
recebo gratamente como se recebe
não a morte ou a vida, mas a descoberta
de nada haver onde um de nós não esteja.
Jorge de Sena
domingo, 6 de abril de 2008
QUEM DORME À NOITE COMIGO?
Quem dorme à noite comigo?
É meu segredo, é meu segredo!
Mas se insistirem, desdigo.
O medo mora comigo,
Mas só o medo, mas só o medo!
E cedo, porque me embala
Num vaivém de solidão,
É com silêncio que fala,
Com voz de móvel que estala
E nos perturba a razão.
Que farei quando, deitado,
Fitando o espaço vazio,
Grita no espaço fitado
Que está dormindo a meu lado,
Lázaro e frio?
Gritar? Quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim?
Gostava até de matar-me.
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim.
Reinaldo Ferreira
sexta-feira, 25 de janeiro de 2008
NUMA TARDE COMO ESTA
Ouço a chuva cair, e ninguém pode
saber, quanto a minha alma está sozinha...
Lembro-me bem: chovia assim, chovia.
- Numa tarde como esta ela foi minha.
E enquanto não chegava, eu me dizia:
- "Vai molhar-se todinha, o meu amor...
Tão frágil, que receio ao vento e à chuva,
antes dos beijos meus, se desintegre...
Onde estará neste momento ainda?
E enquanto não chegar, nada há de ver..."
E lá fora aumentando a chuva, e a chuva
me olhando, indiferente ao meu sofrer...
(Na penumbra do quarto, as coisas todas
eram sombras vazias, esperando.)
De repente: seus passos. Sim! seus passos...
Adivinho-lhe os olhos: não mentira.
E quando a porta se fechou, pensei
por um momento ainda, que não era,
- que eu é que louco imaginara tudo.
Encostou-se ao meu peito, e o coração
vaga escondida, contra o meu batia.
Beijei-lhe a boca... e então bebi-lhe as gotas
no pescoço, no rosto, nos cabelos...
-"Criancice, meu amor!... - molhada e fria esta roupa
há de até lhe fazer mal..."
Tão débil era o amor a aconchegar-se:
quase uma criança entre medrosa e alegre,...
Ah, a chuva que a molhou! ... E eu fui cuidá-la...
e em pouco, éramos dois, ardendo em febre. .
Numa tarde como esta ela foi minha,
molhada e trêmula a colhi nos braços.
Hoje, chove... A minha alma está sozinha...
E nunca mais hei de escutar seus passos...
J.G. de Araújo Jorge
sábado, 19 de janeiro de 2008
SE MINHAS MÃOS PUDESSEM DESFOLHAR
Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.
Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.
Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!
Federico Garcia Lorca
quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
NINGUÉM VAI SABER
domingo, 28 de outubro de 2007
OUVE MEU ANJO
Ouve, meu anjo:
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é mel?
Tentou, severo, afastar-se
Num sorriso desdenhoso;
Mas aí!,
A carne do assasssino
É como a do virtuoso.
Numa atitude elegante,
Misterioso, gentil,
Deu-me o seu corpo doirado
Que eu beijei quase febril.
Na vidraça da janela,
A chuva, leve, tinia...
Ele apertou-me cerrando
Os olhos para sonhar -
E eu lentamente morria
Como um perfume no ar!
António Botto
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é mel?
Tentou, severo, afastar-se
Num sorriso desdenhoso;
Mas aí!,
A carne do assasssino
É como a do virtuoso.
Numa atitude elegante,
Misterioso, gentil,
Deu-me o seu corpo doirado
Que eu beijei quase febril.
Na vidraça da janela,
A chuva, leve, tinia...
Ele apertou-me cerrando
Os olhos para sonhar -
E eu lentamente morria
Como um perfume no ar!
António Botto
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
SOB O CHUVEIRO AMAR
Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo -- é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, 20 de julho de 2007
DOZE MORADAS DO SILÊNCIO
Envolver-me na mais obscura solidão das searas e gemer
Amassar com os dentes uma morte íntima
Durante a sonolência balbuciante das papoulas
Prolongar a vida deste verão até ao mais próximo verão
para que os corpos tenham tempo de amadurecer
...colher em tuas coxas o sumo espesso
e no calor molhado da noite seduzir as luas
o riso dos jovens pastores desprevenidos...as bocas
do gado triturando o restolho....as correrias inesperadas
das aves rasteiras
....e crescerei das fecundas terras ou da morte
que sufoca o cio da boca.....
....subirei com a fala ao cimo do teu corpo ausente
trasmitir-lhe-ei o opiáceo amor das estações quentes.
Al Berto
quarta-feira, 20 de junho de 2007
JOELHO
Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho
Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio
Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo
Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo
Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo
E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento
Volto então ao teu
joelho entreabrindo-te
as pernas
Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.
Maria Teresa Horta
POEMA ANTIGO
O homem que percorro
com as mãos
e a lua que concebo
na altitude
do tédio
Só
o oceano
penso paralelo — ventre
à praia intata
das janelas brancas
com silêncio
ciclamens-astros
entre
as vozes que calaram
para sempre
o verbo — bússola
com raiz — grito de relevo
O homem que percorro
com as mãos
a estátua que consinto
a lua que concebo.
Maria Teresa Horta
quarta-feira, 13 de junho de 2007
POEMA XVIII
quinta-feira, 31 de maio de 2007
A AMANTE
Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
Nos meus sonhos de prazer…
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome…
Dizem - e eu não protesto -
Que seja qual for
o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!
Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar,
Levo risos de louca, no olhar!
Não entendem dos meus amores contigo -
Não entendem deste luar de beijos…
- Há quem lhe chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
O meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…
E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…
Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltes aos meus apelos dolorosos
- Adormenta esta dor que me domina!
Judith Teixeira
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
Nos meus sonhos de prazer…
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome…
Dizem - e eu não protesto -
Que seja qual for
o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!
Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar,
Levo risos de louca, no olhar!
Não entendem dos meus amores contigo -
Não entendem deste luar de beijos…
- Há quem lhe chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
O meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…
E ninguém sabe que é de ti que eu vivo…
Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltes aos meus apelos dolorosos
- Adormenta esta dor que me domina!
Judith Teixeira
Lido no WebClube
quinta-feira, 24 de maio de 2007
CÂNTICO
Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa… nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua,
ela, agora, descansa, adormecida.
Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro… e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
sobre funduras e confins da vida.
Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos…
enquanto o luar a numba, inerte, gasta
da ternura feroz do meu amplexo.
Cantam-me as veias poemas nunca feitos…
e eu pouso a boca, religiosa e casta,
sobre a flor esmagada do seu sexo.
(José Régio)
sábado, 19 de maio de 2007
OS MEUS DEDOS
TU CHORAVAS
Tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
– riscos na areia mole e quente do teu rosto.
Choravas como quem se procura.
E eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.
Não sei se o mundo existia e nós existíamos realmente.
Sei que tudo estava suspenso,
esperando não sei que grave acontecimento,
e que milhares de insectos paravam e zumbiam nos
meus sentidos.
Só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.
Depois só dei pela manhã,
a manhã atrevida
entrando devagar, muito devagar e acordando-me.
Desviei os meus olhos para ti :
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
A noite partira. E, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.
Albano Martins
O BEIJO
A CHEGADA DOS NAVIOS
A Chegada dos Navios
Chegam heróis e jovens de mãos dadas.
Chegam rapazes loiros como o estio
E partem as palavras censuradas
No penacho de fumo do navio.
Em que a aventura nos embosca o cio
Chegam esperanças, medos e ciladas
E partem as angústias, exiladas,
No penacho de fumo do navio.
Ao ritmo dos guindastes estremecemos.
Portos abertos ao que nos deslumbra,
Barcos chamando o sexo com um grito!
Piratas da abordagem que trazemos
A rebentar nas veias: que se cumpra
Nosso destino esplêndido e maldito!
José Carlos Ary dos Santos
Liturgia do Sangue (1963)
Retirdado da compilação: Obra Poética (1994)
sábado, 14 de abril de 2007
ABUNDA QUE ENGRAÇADA
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
rebunda.
Carlos Drummond de Andrade
quinta-feira, 29 de março de 2007
AMOR DE SONHO
quarta-feira, 21 de março de 2007
A TUA VOZ NA PRIMAVERA
Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!
Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!
Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...
Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!
Florbela Espanca
terça-feira, 20 de março de 2007
ABC ERÓTICO
Abre-te!
Beija-me!
Cobre-me!
Amar-te é volúpia
Brincar é malicia
Carícia é pingo de mel.
Ai!
Basta!
Cala-te!
Abraço-te, queres?
Belisco-te, gostas?
Colo-me a ti, einh?
Ah!
Biscoito
Crocante!
Às nuvens subi
Bebendo o teu néctar
Crescendo-me em ti!
Ata-me!
Bebe-me!
Come-me!
Agora imparável
Brutalmente bom
Cada vez melhor!
Noel ferreira
quarta-feira, 14 de março de 2007
O AMOR E O OUTRO
sexta-feira, 9 de março de 2007
NOSSOS CORPOS
Nossos corpos
se cruzam e descruzam
como serpentes
cálidas
se enroscam
e se apertam
atarracham
num crescendo
sem limite.
Há gemidos delirantes
há percussões arrítmicas
respirações ofegantes
empastadas em suor
até ao êxtase
e ao torpor.
Não há discurso
erótico
que resista
à mudez
desta nudez
tumultuosamente
sinfónica.
Noel Ferreira
se cruzam e descruzam
como serpentes
cálidas
se enroscam
e se apertam
atarracham
num crescendo
sem limite.
Há gemidos delirantes
há percussões arrítmicas
respirações ofegantes
empastadas em suor
até ao êxtase
e ao torpor.
Não há discurso
erótico
que resista
à mudez
desta nudez
tumultuosamente
sinfónica.
Noel Ferreira
PÚBIS CARENTE
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007
CERIMONIA SOLITARIA BAJO LA LUZ DE LA LUNA
La masturbación es un caballo blanco
Galopando entre el jardín
Y el baño de mi casa
La masturbación se aprende
Mirando y mirando la luna
Abriendo y cerrando puertas
Sin darse cuenta que la entrada y la salida
Nunca han existido
Jugando con la desesperación
Y el terciopelo negro
Mordiendo y arañando el firmamento
Levantando torres de palabras
O dirigiendo el pequeño pene oscuro
Posiblemente hacia el alba
O hacia una esfera de mármol tibio y mojado
O en el peor de los casos
Hacia una hoja de papel como ésta
Pero escribiendo tan sólo la palabra
Luna
En una esquina
Pero sobre todo
Haciendo espuma de la noche a la mañana
Incluidos sábado y domingo.
Jorge Eduardo Eielson, Perú
"Ceremonia solitaria" - 1964
sábado, 17 de fevereiro de 2007
VEM AMOR...
SONETO DAS MÃOS
Mãos grandes, fortes, tuas mãos me davam
castigos e carícias, vida e morte!
Mãos fracas, minhas mãos, em cujo porte
não cabes, e teu peito em vão escavam!
Mãos tuas, que de sangue se pintavam
rasgando um coração, de cujo corte
respinga em minhas mãos vermelho forte!
Mãos nossas, que se sujam e se lavam!
Milagres acontecem! Ao bom Deus
inúteis meus pedidos não chegaram,
nem surdos ficarão os gritos meus!
Meus olhos, que eram cegos, hoje encaram
aquelas mãos, clamadas tanto aos céus,
sangrentas dos miúdos que preparam!
Salvador Novo
Tradução: Glauco Mattoso
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
ELA
Deitada no sofá,
recuperando de uma azáfama enloquecedora,
não deixo de sentir a sua essência
na minha pele,
mesmo agora, deixada sozinha.
Inspiro aquele odor... Qual oxigénio!...
inspiro novamente...
... e mais uma vez inspiro...
Nos meus lábios detecto um conhecido sabor,
o já percurrido relevo dos seus lábios,
forma-se novamente nos meus.
Fecho os olhos.
Relembro os momentos a seu lado.
E com tanta marca no meu corpo deixada,
é como se tivesse a beijá-la,
como se tivesse a abraçá-la...
sinto a forma do seu corpo sobre o meu.
Com, ainda, os olhos cerrados,
vejo o seu sorriso... o seu terno olhar...
Ela está tão dentro de mim!
tão fora... tão em cima, tão em baixo...
a meu lado...
Amaldiço tamanha ausência!
Tamanha perseguição... tenho-a aqui...
mas não a tenho...
A mente está cansada...
revivo e revivo novamente
os nossos momentos de entrega...
a impulsividade, a instictividade...
Todos os meus sentidos são saciados
por ela, com ela, através dela!...
o seu sabor... ainda o saboreio...
o seu cheiro... ainda o inalo...
a sua voz... ainda se declara...
a sua pele... toco-a em mim...
a sua face... ainda a vejo...
Conto no calendário o espaço temporal
que me dela separa...
os dias, as horas, os minutos...
E as palavras que me dirige
acalmam-me, emocionam-me,
asseguram-me...
Enterro-me nela,
vivo com ela, vivo porque ela assim me mantém
... sentidos aguçados, saciados ora agora...
insaciados agora depois...
com as emoções transbordando
nos poros da minha pele,
como um ser humano é legitimo e digno de se manter vivo
...
amando.
Guida
recuperando de uma azáfama enloquecedora,
não deixo de sentir a sua essência
na minha pele,
mesmo agora, deixada sozinha.
Inspiro aquele odor... Qual oxigénio!...
inspiro novamente...
... e mais uma vez inspiro...
Nos meus lábios detecto um conhecido sabor,
o já percurrido relevo dos seus lábios,
forma-se novamente nos meus.
Fecho os olhos.
Relembro os momentos a seu lado.
E com tanta marca no meu corpo deixada,
é como se tivesse a beijá-la,
como se tivesse a abraçá-la...
sinto a forma do seu corpo sobre o meu.
Com, ainda, os olhos cerrados,
vejo o seu sorriso... o seu terno olhar...
Ela está tão dentro de mim!
tão fora... tão em cima, tão em baixo...
a meu lado...
Amaldiço tamanha ausência!
Tamanha perseguição... tenho-a aqui...
mas não a tenho...
A mente está cansada...
revivo e revivo novamente
os nossos momentos de entrega...
a impulsividade, a instictividade...
Todos os meus sentidos são saciados
por ela, com ela, através dela!...
o seu sabor... ainda o saboreio...
o seu cheiro... ainda o inalo...
a sua voz... ainda se declara...
a sua pele... toco-a em mim...
a sua face... ainda a vejo...
Conto no calendário o espaço temporal
que me dela separa...
os dias, as horas, os minutos...
E as palavras que me dirige
acalmam-me, emocionam-me,
asseguram-me...
Enterro-me nela,
vivo com ela, vivo porque ela assim me mantém
... sentidos aguçados, saciados ora agora...
insaciados agora depois...
com as emoções transbordando
nos poros da minha pele,
como um ser humano é legitimo e digno de se manter vivo
...
amando.
Guida
terça-feira, 13 de fevereiro de 2007
NOCTURNO
O desenho
redondo do teu seio
Tornava-te mais cálida, mais nua
Quando eu pensava nele...Imaginei-o,
À beira-mar, de noite, havendo lua...
Talvez a espuma, vindo, conseguisse
Ornar-te o busto de uma renda leve
E a lua, ao ver-te nua, descobrisse,
Em ti, a branca irmã que nunca teve...
Pelo que no teu colo há de suspenso,
Te supunham as ondas uma delas...
Todo o teu corpo, iluminado, tenso,
Era um convite lúcido às estrelas....
Imaginei-te assim á beira-mar,
Só porque o nosso quarto era tão estreito...
- E, sonolento, deixo-me afogar
No desenho redondo do teu peito...
David Mourão-Ferreira
sábado, 10 de fevereiro de 2007
HORAS RUBRAS
Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas ...
Oiço as olaias rindo desgrenhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p' las estradas...
Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...
Sou chama e neve branca e misteriosa...
e sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!
Florbela Espanca
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas ...
Oiço as olaias rindo desgrenhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p' las estradas...
Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...
Sou chama e neve branca e misteriosa...
e sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!
Florbela Espanca
Imagem: Sergey Ryzhkov
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
ENVOLVE-ME...
Envolve-me amorosamente
Na cadeia de teus braços
Como naquela tardinha...
Não tardes, amor ausente;
Tem pena da minha mágoa,
Vida minha!
Vai a penumbra desabrochando
Na alcova
Aonde estou aguardando
A tua vinda...
Não tardes, amor ausente!
Anoitece. O dia finda...
E as rosas desfalecendo
Vão caindo e murmurando:
- Queremos que Ele nos pise!
Mas, quando vem Ele, quando?...
António Botto
Canções, 1921
quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007
TU QUE NUNCA SERÁS
Sábado foi caprichoso o beijo dado,
Capricho de varão, audaz e fino
Mas foi doce o capricho masculino
A este meu coração, lobinho alado.
Capricho de varão, audaz e fino
Mas foi doce o capricho masculino
A este meu coração, lobinho alado.
Não é que creia, não creio, se inclinado
sobre minhas mãos te senti divino
E me embriaguei, compreendo que este vinho
Não é para mim, mas jogo e roda o dado...
sobre minhas mãos te senti divino
E me embriaguei, compreendo que este vinho
Não é para mim, mas jogo e roda o dado...
Eu sou a mulher que vive alerta,
Tu o tremendo varão que se desperta
E é uma torrente que se desvanece no rio
Tu o tremendo varão que se desperta
E é uma torrente que se desvanece no rio
E mais se encrespa enquanto corre e poda.
Ah, resisto, mas me tens toda,
Tu, que nunca serás de todo meu.
Ah, resisto, mas me tens toda,
Tu, que nunca serás de todo meu.
Alfonsina Storni
Tradução de Maria Teresa Almeida Pina
terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
VEM...
Vem! Que t' importa que maldiga o mundo
O amor profundo que nos liga? vem;
Vem, que nos vales de cheirosas flores,
Nossos amores viçarão também.
Vem! de joelhos nos tapiz de nardo
Há de te o brado suspirar idílios,
Cantar-te a face rosejada em pranto,
O orvalho santo do frouxel dos cílios.
Pensa na sombra da floresta virgem...
Nesta vertigem ... nest'amor ali!...
Aves felizes no sendal dos ramos
Seremos: vamos, que o serei por ti!
Vamos unidos como a luz ao astro
O amor da Castro na soidão lembrá-lo,
Nas longas plumas que a palmeira agita
A alma palpita de Virgínia e Paulo.
Que mais tu queres, anjo e flor? Escuta:
Quem ama luta? Não lutemos, vem!
Vamos aos vales de cheirosas flores,
Que é flor d'amores meu amor também.
Olha, de tarde quando o sol se esconde
Diz-me tu onde mais poesia viste?
Calam-se os ventos - só a brisa arrula
- O céu se azula - mas o céu é triste.
Pois bem, o bardo na soidão exprime
Na voz sublime dum arcanjo a voz:
Hei de dos seios arrancar os lírios
Dos meus delírios, pra t'os dar - a sós.
- Perdidos ambos no deserto infinito
Que sonho lindo, que visões também!
E o éter puro como véu d'estrelas...
E a chama delas a tremer além!...
"Mas quando um dia desbotar-se o prado?
Quando o valado se cobrir de gelos?
Ai! tu só vives - beija-flor - de orvalhos
Em verdes galhos de sonhares belos!
Qu' importa o prado de cheirosas flores
Se teus amores morrerão também!"
Quando morrerem, morrerão comigo
E ao céu contigo voarei - Oh! vem!
"Oh! não! Minh'alma se coroa em flores;
Nos esplendores de celeste aurora;
Deus abençoa só amores santos
Cala teus cantos: morrerás agora?"
(Rio Grande, julho de 1867)
Rita Barém de Melo
terça-feira, 30 de janeiro de 2007
TEU CORPO SEJA BRASA
PRIMEIRO FORAM OS DEDOS
Primeiro foram os dedos
que travaram conhecimento.
Depois os olhos pousaram-me
Depois os olhos pousaram-me
na mão e levaram-na a percorrer
a curva da cintura. E a sua boca
procurou a minha boca
sem sobressaltos e deixou-a depois
para percorrer o meu corpo.
É assim a descoberta do poeta,
apesar de tudo se passar na sua cabeça,
dando origem a mais um poema.
Maria Carlos Loureiro
segunda-feira, 22 de janeiro de 2007
DESPERTA-ME DE NOITE
Desperta-me de noite
O teu desejo
Na vaga dos teus dedos
Com que vergas
O sono em que me deito
É rede a tua lingua
Em sua teia
É vicio as palavras
Com que falas
A trégua
A entrega
O disfarce
E lembras os meus ombros
Docemente
Na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
Com o teu corpo
Tiras-me do sono
Onde resvalo
E eu pouco a pouco
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vais descobrindo vales
Maria Tereza Horta
SE TU QUISESSES VER-ME
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Florbela Espanca
sábado, 20 de janeiro de 2007
TEUS QUERIDOS PÉS
TEU CORPO É AGOSTO
sexta-feira, 19 de janeiro de 2007
O INSECTO
Das tuas ancas aos teus pés
quero fazer uma longa viagem.
Sou mais pequeno que um insecto.
Percorro estas colinas,
são da cor da aveia,
têm trilhos estreitos
que só eu conheço,
centimetros queimados,
pálidas perspectivas.
Há aqui um monte.
Nunca dele sairei.
Oh que musgo gigante!
E uma cratera, uma rosa
de fogo humedecido!
Pelas tuas pernas desço
tecendo uma espiral
ou adormecendo na viagem
e alcanço os teus joelhos
duma dureza redonda
como os ásperos cumes
dum claro continente.
Para teus pés resvalo
para as oito aberturas
dos teus dedos agudos,
lentos, peninsulares,
e deles para o vazio
do lençol branco caio,
procurando cego
e faminto teu contorno
de vaso escaldante!
Pablo Neruda
DESESPERO
Não eram meus os olhos que te olharam
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero
José Carlos Ary dos Santos
Nem este corpo exausto que despi
Nem os lábios sedentos que poisaram
No mais secreto do que existe em ti.
Não eram meus os dedos que tocaram
Tua falsa beleza, em que não vi
Mais que os vícios que um dia me geraram
E me perseguem desde que nasci.
Não fui eu que te quis. E não sou eu
Que hoje te aspiro e embalo e gemo e canto,
Possesso desta raiva que me deu
A grande solidão que de ti espero.
A voz com que te chamo é o desencanto
E o espermen que te dou, o desespero
José Carlos Ary dos Santos
quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
CANTIGA DE AMIGO
Cantiga de Amigo
Nem um poema nem um verso nem um canto
tudo raso de ausência tudo liso de espanto
e nem Camões Virgílio Shelley Dante
--- o meu amigo está longe
e a distância é bastante.
Nem um som nem um grito nem um ai
tudo calado todos sem mãe nem pai
Ah não Camões Virgílio Shelley Dante!
---o meu amigo está longe
e a tristeza é bastante.
.
Nada a não ser este silêncio tenso
que faz do amor sozinho o amor imenso.
Calai Camões Virgílio Shelley Dante:
o meu amigo está longe
e a saudade é bastante!
José carlos Ary dos Santos
quarta-feira, 17 de janeiro de 2007
SOBRE OUTROS LÁBIOS
Eu crescia para o Verão.
Para a água
antiquíssima da cal
Crescia violento e nu.
Podiam ver-me crescer
rente ao vento,
podiam ver-me em flor
exasperado e puro.
À beira do silêncio,
eu crescia para o ardor
calcinado dos cardos
e da sede.
Morre-se agora
entre contínuas chuvas,
os lábios só lembrados
de um Verão sobre outros lábios.
Eugénio de Andrade
segunda-feira, 15 de janeiro de 2007
PRAIA DO PARAÍSO
Era a primeira vez que nus os nossos corpos
Apesar da penumbra à vontade se olhavam
Surpresos de saber que tinham tantos olhos
Que podiam ser de luz tantos candelabros
Era a primeira vez cerrados os estores
Só o rumor do mar permanecera em casa
E sabias a sal, e cheiravas a limos
Que tivesses ouvido o canto das cigarras
Havia mais que céu no céu do teu sorriso
Madrugada de tudo em que sonhavas
Em teus braços tocar era tocar os ramos
Que estremecem ao sol desde que o mundo é mundo
É preciso afinal chegar aos cinquenta anos
Para se ver que aos vinte é que se teve tudo
David Mourão Ferreira
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