EM AUDIÇÃO

CHOPIN - NOCTURNE IN B FLAT MINOR OP.9 Nº1

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

CERIMONIA SOLITARIA BAJO LA LUZ DE LA LUNA



La masturbación es un caballo blanco
Galopando entre el jardín
Y el baño de mi casa
La masturbación se aprende
Mirando y mirando la luna
Abriendo y cerrando puertas
Sin darse cuenta que la entrada y la salida
Nunca han existido
Jugando con la desesperación
Y el terciopelo negro
Mordiendo y arañando el firmamento
Levantando torres de palabras
O dirigiendo el pequeño pene oscuro
Posiblemente hacia el alba
O hacia una esfera de mármol tibio y mojado
O en el peor de los casos
Hacia una hoja de papel como ésta
Pero escribiendo tan sólo la palabra
Luna
En una esquina
Pero sobre todo
Haciendo espuma de la noche a la mañana
Incluidos sábado y domingo.

Jorge Eduardo Eielson, Perú
"Ceremonia solitaria" - 1964

sábado, 17 de fevereiro de 2007

VEM AMOR...


Vem amor...
Tomar banho no riacho
E depois rebolar na relva.
Dá-me o teu beijo quente,
O teu toque suave,
O sabor da tua virilidade...

Vem amor...
Entra em mim,
Invade o meu corpo
Faz-me gemer, gritar!
Preciso do teu amor,
De sentir o prazer e a dor
Do nosso acto louco.

Sensual

SONETO DAS MÃOS


Mãos grandes, fortes, tuas mãos me davam
castigos e carícias, vida e morte!
Mãos fracas, minhas mãos, em cujo porte
não cabes, e teu peito em vão escavam!

Mãos tuas, que de sangue se pintavam
rasgando um coração, de cujo corte
respinga em minhas mãos vermelho forte!
Mãos nossas, que se sujam e se lavam!

Milagres acontecem! Ao bom Deus
inúteis meus pedidos não chegaram,
nem surdos ficarão os gritos meus!

Meus olhos, que eram cegos, hoje encaram
aquelas mãos, clamadas tanto aos céus,
sangrentas dos miúdos que preparam!

Salvador Novo
Tradução: Glauco Mattoso

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

ELA




Deitada no sofá,
recuperando de uma azáfama enloquecedora,
não deixo de sentir a sua essência
na minha pele,
mesmo agora, deixada sozinha.
Inspiro aquele odor... Qual oxigénio!...
inspiro novamente...
... e mais uma vez inspiro...


Nos meus lábios detecto um conhecido sabor,
o já percurrido relevo dos seus lábios,
forma-se novamente nos meus.
Fecho os olhos.
Relembro os momentos a seu lado.


E com tanta marca no meu corpo deixada,
é como se tivesse a beijá-la,
como se tivesse a abraçá-la...
sinto a forma do seu corpo sobre o meu.
Com, ainda, os olhos cerrados,
vejo o seu sorriso... o seu terno olhar...


Ela está tão dentro de mim!
tão fora... tão em cima, tão em baixo...
a meu lado...
Amaldiço tamanha ausência!
Tamanha perseguição... tenho-a aqui...
mas não a tenho...


A mente está cansada...
revivo e revivo novamente
os nossos momentos de entrega...
a impulsividade, a instictividade...


Todos os meus sentidos são saciados
por ela, com ela, através dela!...
o seu sabor... ainda o saboreio...
o seu cheiro... ainda o inalo...
a sua voz... ainda se declara...
a sua pele... toco-a em mim...
a sua face... ainda a vejo...


Conto no calendário o espaço temporal
que me dela separa...
os dias, as horas, os minutos...


E as palavras que me dirige
acalmam-me, emocionam-me,
asseguram-me...


Enterro-me nela,
vivo com ela, vivo porque ela assim me mantém
... sentidos aguçados, saciados ora agora...
insaciados agora depois...
com as emoções transbordando
nos poros da minha pele,
como um ser humano é legitimo e digno de se manter vivo
...
amando.


Guida

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

NOCTURNO


O desenho
redondo do teu seio
Tornava-te mais cálida, mais nua
Quando eu pensava nele...Imaginei-o,
À beira-mar, de noite, havendo lua...

Talvez a espuma, vindo, conseguisse
Ornar-te o busto de uma renda leve
E a lua, ao ver-te nua, descobrisse,
Em ti, a branca irmã que nunca teve...

Pelo que no teu colo há de suspenso,
Te supunham as ondas uma delas...
Todo o teu corpo, iluminado, tenso,
Era um convite lúcido às estrelas....

Imaginei-te assim á beira-mar,
Só porque o nosso quarto era tão estreito...
- E, sonolento, deixo-me afogar
No desenho redondo do teu peito...

David Mourão-Ferreira

sábado, 10 de fevereiro de 2007

HORAS RUBRAS



Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas ...

Oiço as olaias rindo desgrenhadas...
Tombam astros em fogo, astros dementes,
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p' las estradas...

Os meus lábios são brancos como lagos...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras...

Sou chama e neve branca e misteriosa...
e sou, talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

Florbela Espanca

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

ENVOLVE-ME...



Envolve-me amorosamente
Na cadeia de teus braços
Como naquela tardinha...
Não tardes, amor ausente;
Tem pena da minha mágoa,
Vida minha!

Vai a penumbra desabrochando
Na alcova
Aonde estou aguardando
A tua vinda...
Não tardes, amor ausente!
Anoitece. O dia finda...
E as rosas desfalecendo
Vão caindo e murmurando:
- Queremos que Ele nos pise!
Mas, quando vem Ele, quando?...

António Botto
Canções, 1921

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

TU QUE NUNCA SERÁS



Sábado foi caprichoso o beijo dado,
Capricho de varão, audaz e fino
Mas foi doce o capricho masculino
A este meu coração, lobinho alado.

Não é que creia, não creio, se inclinado
sobre minhas mãos te senti divino
E me embriaguei, compreendo que este vinho
Não é para mim, mas jogo e roda o dado...

Eu sou a mulher que vive alerta,
Tu o tremendo varão que se desperta
E é uma torrente que se desvanece no rio

E mais se encrespa enquanto corre e poda.
Ah, resisto, mas me tens toda,
Tu, que nunca serás de todo meu.

Alfonsina Storni
Tradução de Maria Teresa Almeida Pina

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

VEM...



Vem! Que t' importa que maldiga o mundo
O amor profundo que nos liga? vem;
Vem, que nos vales de cheirosas flores,
Nossos amores viçarão também.

Vem! de joelhos nos tapiz de nardo
Há de te o brado suspirar idílios,
Cantar-te a face rosejada em pranto,
O orvalho santo do frouxel dos cílios.

Pensa na sombra da floresta virgem...
Nesta vertigem ... nest'amor ali!...
Aves felizes no sendal dos ramos
Seremos: vamos, que o serei por ti!

Vamos unidos como a luz ao astro
O amor da Castro na soidão lembrá-lo,
Nas longas plumas que a palmeira agita
A alma palpita de Virgínia e Paulo.

Que mais tu queres, anjo e flor? Escuta:
Quem ama luta? Não lutemos, vem!
Vamos aos vales de cheirosas flores,
Que é flor d'amores meu amor também.

Olha, de tarde quando o sol se esconde
Diz-me tu onde mais poesia viste?
Calam-se os ventos - só a brisa arrula
- O céu se azula - mas o céu é triste.

Pois bem, o bardo na soidão exprime
Na voz sublime dum arcanjo a voz:
Hei de dos seios arrancar os lírios
Dos meus delírios, pra t'os dar - a sós.

- Perdidos ambos no deserto infinito
Que sonho lindo, que visões também!
E o éter puro como véu d'estrelas...
E a chama delas a tremer além!...

"Mas quando um dia desbotar-se o prado?
Quando o valado se cobrir de gelos?
Ai! tu só vives - beija-flor - de orvalhos
Em verdes galhos de sonhares belos!

Qu' importa o prado de cheirosas flores
Se teus amores morrerão também!"
Quando morrerem, morrerão comigo
E ao céu contigo voarei - Oh! vem!

"Oh! não! Minh'alma se coroa em flores;
Nos esplendores de celeste aurora;
Deus abençoa só amores santos
Cala teus cantos: morrerás agora?"

(Rio Grande, julho de 1867)
Rita Barém de Melo