EM AUDIÇÃO

CHOPIN - NOCTURNE IN B FLAT MINOR OP.9 Nº1

quarta-feira, 20 de junho de 2007

JOELHO


Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho

Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio

Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo

Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo
Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo

E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento

Volto então ao teu
joelho entreabrindo-te
as pernas

Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.

Maria Teresa Horta

POEMA ANTIGO


O homem que percorro
com as mãos

e a lua que concebo
na altitude
do tédio


o oceano
penso paralelo — ventre
à praia intata
das janelas brancas
com silêncio

ciclamens-astros
entre
as vozes que calaram
para sempre
o verbo — bússola
com raiz — grito de relevo

O homem que percorro
com as mãos

a estátua que consinto

a lua que concebo.

Maria Teresa Horta

quarta-feira, 13 de junho de 2007

POEMA XVIII




Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.

Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.

Eugénio de Andrade
Foto: Karin Rosenthal