
Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço
em que de penetrar-te me senti perdido
no ter-te para sempre -
Quanto de ter-te me possui em tudo
o que eu deseje ou veja não pensando em ti
no abraço a que me entrego -
Quanto de entrega é como um rosto aberto,
sem olhos e sem boca, só expressão dorida
de quem é como a morte -
Quanto de morte recebi de ti,
na pura perda de possuir-te em vão
de amor que nos traiu -
Quanta traição existe em possuir-se a gente
sem conhecer que o corpo não conhece
mais que o sentir-se noutro -
Quanto sentir-te e me sentires não foi
senão o encontro eterno que nenhuma imagem
jamais separará -
Quanto de separados viveremos noutros
esse momento que nos mata para
quem não nos seja e só -
Quanto de solidão é este estar-se em tudo
como na auséncia indestrutível que
nos faz ser um no outro -
Quanto de ser-se ou se não ser o outro
é para sempre a única certeza
que nos confina em vida -
Quanto de vida consumimos pura
no horror e na miséria de, possuindo, sermos
a terra que outros pisam -
Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,
recebo gratamente como se recebe
não a morte ou a vida, mas a descoberta
de nada haver onde um de nós não esteja.
Jorge de Sena
13 comentários:
E outro canto... (adoro labirintos!) Só hoje reparei na autoria, ainda não tinh clicado noutros sítios...
Deveras sensual
Beijo
#2
Beijo a sério (agora em leitura mais profunda) mesmo imaginado, que seja! Toda, a homenagem é tua! Já está lá para ti.
grande Jorge de Sena que escrevia sobre as emoções como poucos o conseguem fazer...bela escolha
adorei este cantinho
sem preconceitos mesmo!
(adicionei ao meu blog, espero que não haja problema)
Sub Rosa
Moi: Obrigado por me visitares também neste cantinho.
Um beijo para ti também.
Carla: Gosto de quem sabe sentir as emoções.
Bjs
SubRosa: Obrigado pela visita.
Claro que não há problema.
Bjs
Que casamento fabuloso, meu caro Special! Parabéns! Abraço!
Meu caro Rato parabéns pelo novo visual e obrigado pela visita.
Um abraço.
que pensaria Jorge de Sena da ilustração? Mudam-se os tempos....Um abraço
Parabéns
a foto é fabulosa e a escolha do poema do Jorge de Sena é perfeita.
Este blog é muito poético. É um dos meus preferidos.
Graça Martins
Luís, acreditas que eu quando ponho aqui um poema, com estas imagens, penso sempre se o autor iria ou não gostar?
Um abraço.
Graça Martins, obrigado pela visita e pela preferência.
Um beijo.
É incrivel, podes julgar que estou a brincar, mas nunca falei tão verdade: só hoje descobri este teu canto; o que tenho perdido...
Peço-te desculpa, mas também já podias ter dado uma dica...
Para primeira visita um Jorge de Sena brilhante e uma foto que "diz tudo".
Abraço.
Conheço o sal da tua pele seca
Depois que o estio se volveu inverno
De carne repousada em suor nocturno.
Conheço o sal do leite que bebemos
Quando das bocas se estreitavam lábios
E o coração no sexo palpitava.
Conheço o sal dos teus cabelos negros
Os louros ou cinzentos que se enrolam
Neste dormir de brilhos azulados.
Conheço o sal que resta em minhas mãos
Como nas praias o perfume fica
Quando a maré desceu e se retrai.
Conheço o sal da tua boca, o sal
Da tua língua, o sal de teus mamilos,
E o da cintura se encurvando de ancas.
A todo o sal conheço que é só teu,
Ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
Um cristalino pó de amantes enlaçados.
Jorge de Sena
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